Trilhas de carreira: o mapa da mina para o RH

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Ambição é o que não falta para os profissionais da chamada Geração Y. Ambição e impaciência. Apesar das diversas competências que os mais jovens trazem para o mercado de trabalho (como serem multitarefas, criativos, rápidos em compreender e assimilar novas tecnologias), não é raro esse mesmo grupo de profissionais apresentar um desafio para os líderes de suas empresas – e para os gestores de RH, em particular. O desafio é: como mantê-los na equipe, satisfazendo expectativas de carreira que crescem constantemente e que precisam ser realizadas já, agora, senão a concorrência leva? A resposta pode ser está nas trilhas de carreira.

“Gosto de chamar essa geração de Geração Miojo”, diz o consultor de empresas Renato Gutierrez, especializado em Recursos Humanos e Estratégia de Negócios. “Pois é a geração do instantâneo. Tudo tem de acontecer muito rápido. Por exemplo, um jovem com menos de seis meses de empresa faz um MBA e já espera uma promoção. Se não consegue, fica frustrado e procura novo emprego.” Com mais de 23 anos de experiência profissional e passagem por algumas das maiores empresas americanas de consultoria, Gutierrez viu a Geração Y surgir e alterar o mercado de trabalho definitivamente.

Mas Gutierrez também sabe que algumas coisas não mudam. Como, por exemplo, que é muito mais fácil avançar quando se sabe o caminho, independentemente da geração a que se pertence. Daí a utilidade do conceito de trilhas de carreira.

Entenda o conceito de trilhas de carreira e seus benefícios

“A trilha de carreira é um mapa que oferece uma perspectiva de onde você está profissionalmente, aonde você quer chegar, por onde você tem de passar e o que tem de adquirir para chegar lá”, explica o consultor. “Se você é um jornalista iniciante e quer se tornar redator-chefe, quais habilidades tem de desenvolver, quais assuntos tem de dominar, por quais editorias tem de passar para realizar o seu sonho?”, exemplifica.

Os benefícios das trilhas de carreira são inegáveis não só para o profissional, mas também para a própria empresa. Primeiro, ajuda a consolidar a relação com a equipe, que se mantém mais leal à organização. “O que retém funcionário hoje não é remuneração, é oportunidade de aprendizado, crescimento e reconhecimento”, afirma Gutierrez. Segundo, ao oferecer um mapa claro do que está por vir, as trilha de carreiras ajudam o “profissional Miojo” a visualizar mais facilmente objetivos a curto, médio e longo prazo, diminuindo a impaciência característica dessa geração.

Veja cinco dicas de Gutierrez para a gestão de carreiras na sua empresa:

1. A regra é (tem de ser) clara

“É preciso apresentar para o profissional – principalmente para o jovem profissional, da ‘Geração Miojo’, que quer tudo muito rápido – quais são as regras do jogo na sua empresa. Como se consegue promoção? Quem pode participar ou não do programa de trilhas de carreira? Gente de que área ou setor? O que se pode alcançar? Você tem de dizer: ‘Olha, para chegar lá na frente tem de fazer gol, e o gol está ali, não é de qualquer jeito’. Esse ‘gol’ pode ser um mínimo de x meses ou anos de casa, índices de produtividade, etc”

2. Evite exceções

“Um funcionário chega para o seu gerente e pede para ser liberado às quartas-feiras para fazer um MBA que faz parte do seu plano de carreira. O gerente acata. Se um outro colaborador do mesmo setor pedir algo semelhante, o gerente ou vai ter de acatar ou vai ter de dar boas justificativas – baseadas nas regras definidas a princípio. Senão vai causar segregação na empresa, desmotivação no resto da equipe e até repulsa pelo profissional beneficiado.”

3. Gestão de carreiras é assunto para se tratar olho no olho

“A forma ideal de passar um plano de carreiras é sempre a presencial, face to face. A empresa define as regras, o RH prepara cada gerente, e o gerente chama um por um dos seus profissionais para apresentar-lhes o mapa, as possibilidades. É claro que ajuda ter todo o programa desenhado, exposto para consulta, na intranet, mas esse momento olho no olho é imprescindível.”

4. O treino faz parte do jogo

“Algo muito comum de se ouvir são clientes dizendo: ‘Eu tinha um técnico, decidi promovê-lo a gestor. Perdi um excelente técnico e ganhei um mau gestor’. Nem todo mundo está preparado para avançar. E o mais grave é que eu tenho que demitir!’ Para evitar esse risco, é melhor encontrar formas de promover o funcionário sem promovê-lo oficialmente. Vá passando tarefas e responsabilidades maiores que o cargo. Se ele der conta, ótimo. Promova.”

5. Carreira em Y pode servir para o colaborador, mas nem sempre para a empresa

“Às vezes o profissional não tem interesse em avançar hierarquicamente. Ele se torna um profissional sênior quando o mais provável seria assumir posições de liderança: gerente, diretor etc. Mas ele não quer. Aí existe o que se chama de carreira em Y. Ele chega na bifurcação do Y e, em vez de partir para o caminho tradicional, parte para o outro, que também traz recompensas, como maior remuneração. Um repórter pode se tornar repórter especial sem chegar a redator-chefe. Um pesquisador acadêmico pode acumular títulos sem jamais liderar departamento. Às vezes, agrega até mais valor.

Mas esse modelo só serve em alguns casos, quando a função do profissional tiver a ver com o core business da empresa. O exemplo do repórter faz sentido num jornal; mas nesse mesmo jornal não faz sentido carreira em Y dentro do departamento de RH. Ou numa empresa de engenharia: um diretor e um engenheiro consultor podem ganhar o mesmo. Já o diretor de marketing ganhar o mesmo que um assessor de imprensa, não faz sentido. As trilhas de carreira têm de servir para todos: para o colaborador e para a empresa.”