A especialista em inovação e estratégia Solange Mata Machado não pode lhe oferecer garantias, mas ela garante que existem formas de aumentar o potencial inovador da sua empresa. De acordo com ela, dá para fazer com que sua empresa esteja preparada e aberta para a ideia – quando ela surgir – capaz de trazer a mudança. Mas grande parte das empresas brasileiras, diz a especialista, está fazendo errado.
“Há uma diferença entre criatividade e inovação”, diz Solange. “Qualquer ser humano é capaz de criar coisas novas, isso é criatividade ou potencial criativo. Agora, usar essa capacidade para criar uma coisa que traga valor e resultados específicos, isso é inovação!” Para ela, inovação é um termo que significa, ao mesmo tempo, resultado e processo. Em outras palavras, não é apenas o tablet de última geração, mas o que a empresa fez para chegar nele.
De acordo com Solange, o problema de muitas empresas – as grandes, principalmente – é que elas estão focadas no resultado, querem apresentar um produto ou serviço inovador, mas mantêm os mesmos processos internos engessados, olham pouco para fora e têm medo de arriscar. Como solução, ela propõe uma mudança de cultura na empresa de cima a baixo, a começar pelas lideranças. E considera o RH ator-chave nesse processo, como fica claro pelo curso que ela oferece pela Integração Escola de Negócios, O RH como Facilitador para Inovação.
“Não dá para garantir inovação, mas nós conhecemos os drivers, os pontos centrais de um processo de inovação, que precisam estar totalmente imersos na cultura da empresa”, diz a especialista. “O papel do RH é justamente fomentar e consolidar essa cultura.” A seguir, Solange aborda alguns desses pontos que podem conduzir a sua empresa ao caminho da verdadeira inovação.
Antes de inovar, inove a si mesmo
5 princípios pelos quais se guiar para ter uma empresa inovadora.
1. Tenha um propósito
“A capacidade criativa de sua equipe tem de ser focada em objetivos muito claros, alinhados com os pilares estratégicos. Cada vez menos se praticam processos excessivamente abertos, como o antigo brainstorm, porque eles geram frustração. Se você estimular as pessoas a ter ideias sem um foco, pouquíssimas ideias serão aproveitadas, porque falta aderência à estratégia da empresa. Uma reunião para gerar ideias pode servir apenas como um elemento do processo, e mesmo assim precisa ter um foco: gerar ideias para quê?”
Solange diz que metodologias mais modernas, como o chamado design thinking, são mais eficazes, por sempre partirem do consumidor final (o foco). Um exemplo simplificado seria: em vez de começar o processo por “o que seria um barbeador inovador?”, começar por “do que o usuário de barbeadores precisa?”
2. Crie o ambiente propício
“[É preciso] pôr as peças do quebra-cabeças juntas, preparar o contexto que estimule a habilidade criativa inerente das pessoas. O RH é um dos principais interlocutores para fomentar a cultura da inovação. Seja através de treinamentos em processos estruturados e disciplinados de solução criativa; seja promovendo, junto com as lideranças, o ambiente propício para a inovação.”
Segundo Solange, este ambiente propício implicaria em:
- Lideranças inovadoras, que inspirem e motivem.
- Flexibilidade no fluxo de ideias: menos hierarquia e burocracia.
- Comunicação que estimule colaboração e diversidade de olhares.
- Abertura à experimentação e ao risco, maior aceitação dos erros.
3. Agora saia desse ambiente
“[É preciso] estar ligado a centros de inovação, como universidades e centros de pesquisa, criar parcerias com consumidores e fornecedores, ficar de olho nas novas tecnologias. Veja uma empresa como a P&G, por exemplo: mais de 50% das inovações colocadas no mercado vieram de fora da empresa. Ou a Apple, que cria muito pouca coisa ‘dentro de casa’: ela é uma grande integradora de tecnologias, e tem capacidade de design fantástica.”
Nessa visão, a principal função do departamento de pesquisa e desenvolvimento não é mais conceber, mas sim captar ideias de fora – e adequá-las aos objetivos estratégicos da empresa. A inovação vem da gestão do conhecimento, de um melhor portifólio de fontes de inovação.
4. Saia do seu próprio mercado
“Nos últimos 30 anos, as empresas ficaram focadas em inovações incrementais: aumentar a produtividade, melhorar o que já fazem, atender melhor o cliente que já têm, expandir no mercado do qual já fazem parte. Só que quanto mais você tiver olhos para crescer no seu negócio, maior o seu risco. Porque a tecnologia pode mudar tudo rapidamente, romper um mercado drasticamente.”
Para Solange, o sucesso é um perigo, e o que mata a inovação é a visão de curto prazo. Mesmo empresas tidas como inovadoras, quando vistas de perto revelam-se temerárias, investindo no que já está consolidado. “Quando você coloca em pauta no board de uma grande empresa investir em novos mercados, a reação é quase invariavelmente não”, diz ela, que vê necessidade urgente de especialistas em inovação estratégica integrarem os conselhos administrativos.
5. E aposte nos pequenos
“As empresas menores têm sido a origem das grandes mudanças tecnológicas. Porque a cultura de uma pequena empresa já é totalmente flexível; já está centrada em pessoas, não em posições hierárquicas; ainda não está engessada em processos rotineiros; já está mais aberta a parcerias; já está mais disposta a correr riscos. Tudo para a pequena empresa é novo. Tudo é exploração.”