As atividades de team building vêm se tornando cada vez mais utilizadas no Brasil. Para entender a evolução dessas práticas e a importância delas para as estratégias de recursos humanos (RH), conversamos com Luis Zanin, head da Conquistar, empresa membro do Grupo Integração. Nesta entrevista, ele explica como os jogos corporativos se tornaram importantes aliados do RH.
Zanin, conte-nos o que mudou nos jogos corporativos nas últimas duas décadas.
Para fazer um breve histórico, vamos voltar um pouquinho mais no tempo. As atividades de team building existem desde os anos 1980, quando surgiram na Europa. No Brasil, essas práticas começaram a ser utilizadas nos anos 1990, basicamente como atividades ao ar livre. A partir daí, houve uma evolução dessas dinâmicas, que passaram a incorporar recursos das novas tecnologias, como realidade virtual, realidade aumentada, celulares e tablets. Mas a evolução da qual estou falando não ocorreu somente com o uso de tecnologia. As dinâmicas do passado tinham muito foco no RH e pouco no participante. Ou seja, o RH aplicava uma dinâmica para testar o comportamento dos colaboradores em determinadas situações. Os colaboradores, no entanto, não conseguiam entender muito bem por que a atividade estava sendo feita.
Como se dá essa mudança de foco?
As dinâmicas da maneira que eram realizadas no passado deixaram de fazer sentido, inclusive para a equipe de RH. No entanto, quando se muda o contexto em que elas são executadas ou, ainda, se acrescentam outros ingredientes, como storytelling, elas ganham potencial para ser utilizadas em diversas finalidades de treinamento, em vez de apenas visar o lado comportamental. Isto é, os jogos e as atividades de team building incorporaram conteúdos mais técnicos ou relacionados a produtos. E foi aí que esses jogos corporativos passaram a ser vistos como aliados do RH.
Atualmente são usados, por exemplo, em convenções de venda para trabalhar técnicas de negociação ou para apresentar características de um novo produto. Ou seja, todas as modalidades evoluíram nos últimos anos, mais do que isso, podem ser utilizadas em conjunto, gerando novos significados e abrindo possibilidades de treinamento e transmissão de conteúdo. Essa é uma excelente estratégia para fazer com que as pessoas guardem informações sobre um lançamento de forma mais lúdica. Os jogos também têm sido utilizados para o recrutamento de profissionais, em todo o processo de seleção. Já imaginou chegar a uma entrevista de seleção e ela mesma já ser parte de um jogo? A Heineken tem um exemplo interessante disso (veja o vídeo aqui). Dessa maneira, o processo de recrutamento torna-se mais interativo e lúdico.
A duração de um jogo não precisa estar restrita a um determinado momento, isso é correto?
Sim, exatamente. As trilhas de aprendizado, por exemplo, uma metodologia bastante utilizada pelo RH, podem ser transformadas num processo de gamificação. Elas já possuem o pressuposto da recompensa. O colaborador só passa para outro nível de conteúdo se conseguir finalizar o anterior. O RH pode tornar esse avanço na trilha mais divertido, oferecendo bônus para quem conseguir desbloquear os conteúdos. Não precisa ser um bônus financeiro. O participante pode receber cursos exclusivos como recompensa, por exemplo.
As atividades de team building podem ser tanto competitivas quanto colaborativas?
Sim, o jogo não deixa de ser um reflexo da realidade. A vida não é só competitiva, ela é também colaborativa. Há competição nas empresas, áreas competem com outras áreas por recursos ou por atenção, pessoas competem por promoção. O importante é enfatizar que o objetivo geral será alcançado nessa relação entre competição e colaboração, ou seja, nas empresas, é necessário haver colaboração antes da competição para que elas sobrevivam. Nos jogos corporativos acontece o mesmo. E esse é um dos motivos pelos quais os jogos corporativos se tornaram aliados do RH.
Conte-nos sobre alguns dos jogos da Conquistar.
Primeiramente, vou falar sobre o Beat the Box. Esse foi o jogo mais utilizado no ano passado. Ele enfoca bastante esse conceito de competição, mas há a necessidade de compartilhar informações entre as equipes. Se não houver, o jogo fica limitado. Não adianta um participante querer vencer se ele não compartilhar informação. O Beat the Box é um jogo que pode ser customizado de forma a deixar os desafios bastante relacionados com a realidade e os objetivos da empresa.
Outro jogo bem interessante é o Fórmula 1. Nessa atividade, os participantes têm a missão de construir um carro de papelão, que é bem grande, quase do tamanho natural, e vai rodar depois. Há uma corrida entre os carros montados e as pessoas se empolgam muito com a atividade. Ela foca em gestão de projeto, trabalho em equipe e ainda permite fazer analogias como, por exemplo, com patrocínios. Os participantes podem ser induzidos a pensar no portfólio de produtos da empresa e como hierarquizá-los para serem priorizados no decorrer do ano. Ou seja, é um jogo que não fica só no aspecto comportamental.
Os jogos que citei fazem parte do catálogo da Catalyst, a maior rede de jogos corporativos do mundo, da qual a Conquistar faz parte. Nós representamos exclusivamente a Catalyst no país, mas também criamos jogos. Em 2019, lançamos o Bot Creation, um jogo pensado e elaborado pela Conquistar. A ideia dele é construir um robô com recursos simples, partindo da premissa de que a inovação pode ser gerada com baixo custo. Outro aspecto interessante é que o Bot Creators está relacionado à ideia de métodos ágeis, ou seja, a criação precisa ser sempre aprimorada.