Por Fabio Eltz, head das Escolas de Liderança e de Comunicação da Integração
Minha experiência no treinamento de líderes no Programa de Desenvolvimento de Liderança da Integração acentuou uma percepção que eu já possuía — a de como o dia a dia de alguém que lidera uma equipe é cheio de dilemas. O dicionário da língua portuguesa deixa claro que dilema é uma conjuntura difícil em que não há uma opção satisfatória. Por isso, a impossibilidade de achar uma saída certeira para os dilemas da liderança que se vivenciam e ter de decidir entre opções contraditórias torna a realidade do líder muito complicada.
Com base no meu convívio com líderes de diferentes setores, eu reuni neste texto alguns dos principais dilemas da liderança apontados por eles. Ainda que não vá dar aqui uma receita de como solucionar cada dilema, acredito que o primeiro e mais importante passo é pensar sobre eles. É sempre oportuno lembrar que não fazer nada já é uma decisão que também terá consequências.
Dilema 1: perfil da equipe
O primeiro dilema que destaco é sobre o perfil da equipe. Já parou para pensar, como líder, se você sabe quais características quer para seus colaboradores? Você quer ter ao seu lado grandes realizadores, pessoas com capacidade técnica e operacional, ou prefere potenciais líderes que possam questionar, criticar e inovar a área?
Todas as equipes têm metas para entregar e, obviamente, é sempre muito bom ter profissionais com capacidade de realização por perto. Ao mesmo tempo, a área precisa crescer e para isso necessita de gente com visão no futuro. Você deve estar se perguntando se é possível achar um ponto de equilíbrio.
Dilema 2: qual o foco do líder?
O segundo dilema que trago é: o líder deve focar no trabalho de gestão e liderança ou nas contribuições técnicas e operacionais que pode fazer? Alguém que se tornou líder há pouco tempo deve ainda estar apegado às questões técnicas e quer continuar contribuindo, na parte operacional, com a entrega de resultados. No entanto, ele não demora para perceber que a gestão está ficando de lado. Por sua vez, aquele líder que gasta tempo em reuniões, conversa sempre com todos da equipe para dar feedback e treinamento sente-se mal ao ver que está protelando os aspectos operacionais. Decidir para que lado seguir é ou não é um baita dilema?
Aos poucos, o líder conclui que, ainda que ele se dedique ao operacional, ele não consegue acompanhar todos os processos. A única saída é confiar na equipe. Quando perguntado sobre o andamento de alguma tarefa, por mais que tenha indicadores, métricas e relatórios, muitas vezes ele terá de recorrer aos liderados para dar uma boa resposta ao seu diretor. Aqui fica, então, o terceiro dilema: para eu ter uma equipe em que posso confiar, devo ser um líder que adota o esquema de comando e controle ou será melhor ser alguém mais liberal?
Dilema 3: estratégia ou demandas diárias?
O último dilema que quero abordar é do tipo que percorre o pensamento de todos os líderes: devo manter o interesse em questões estratégicas ou atender às demandas do dia a dia? Com tanta cobrança e metas a serem atingidas, parece impossível conciliar as entregas com o desenvolvimento de uma visão estratégica, capaz de traçar o cenário para a área no curto, médio e longo prazo. Se o líder tira muito tempo para desenhar estratégias, sente que precisa focar nas metas e não pode deixar nada atrasar. Se dá toda a atenção ao resultado esperado para a área, vê-se culpado e despreparado para enfrentar o futuro. É possível solucionar esse dilema?
Como afirmei no início, até citando a definição do dicionário, um dilema não tem uma resposta certa nem definitiva. São questões que vão nos rodear o tempo todo. A nossa única saída é não ignorar nenhum dilema. O primeiro passo para enfrentá-lo é entendê-lo em sua profundidade e mapear as alternativas possíveis e pesar cada uma delas. Por exemplo, se decido investir mais em estratégia, tenho como vantagem vislumbrar o futuro e me desenvolver. Como desvantagens, tenho a dificuldade da tarefa e o tempo consumido. Se, por outro lado, decido focar no atendimento às demandas operacionais, terei como vantagem as metas atingidas. As desvantagens para esse caso serão a falta de preparo para o futuro reservado à área.
A importância de mapear os dilemas
Delimitar as opções que os dilemas da liderança apresentam não significa encontrar uma resposta fácil. Mas é um passo importante, pois permite a tomada de decisão consciente sobre para que lado caminhar e, ainda, a possibilidade de pôr um pé em cada lado. Com a clareza sobre a decisão tomada, o líder conseguirá negociar com o seu gestor o caminho escolhido.
Os dilemas fazem parte da vida. O importante é medir os riscos e as consequências e escolher uma direção que parece mais viável. Tenha em mente que é importante aprender a lidar com os dilemas, sem perder de vista que o cérebro é capaz de conviver com soluções antagônicas e de buscar a melhor saída entre elas.