Em 1937, o livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas chegava às livrarias americanas. A obra, de Dale Carnegie, continha os ensinamentos do seu curso de comunicação para adultos em Nova York. Dicas simples e fundamentais como: sorrir, falar o nome das pessoas (o som mais doce e importante para qualquer um) ou sempre começar uma consideração com um elogio sincero. Hoje, com milhões de cópias vendidas e traduzido para 40 idiomas, tornou-se uma bíblia comportamental.
A esse cânone do bom relacionamento se juntou, em 1995, o livro Inteligência Emocional, do psicólogo Daniel Goleman, que também virou best-seller. Enquanto o foco de Carnegie é no poder da empatia, Goleman enfatiza o autoconhecimento. E os dois têm um objetivo em comum: abrir portas no trabalho e na vida pessoal.
Usar a inteligência emocional não significa atingir um estado de nirvana em que nada o desagrada, mas sim reagir de maneira inteligente às situações desagradáveis. Antes de Goleman, sabe como isso se chamava? Maturidade. Goleman apenas criou processos para acelerar nossa maturidade, que nada mais é do que a inteligência emocional. Adianto aqui as 6 principais dicas sobre o assunto.
1. Você não consegue mudar a sua personalidade. E nem precisa.
Imagine a estrutura de um prédio, com pilares e vigas. Você não pode mudar uma viga de lugar, desfazer a fundação. Isso é a sua personalidade. Mas você pode pintar a fachada de uma cor diferente. Isso é o que as pessoas veem, o seu comportamento. Para ser inteligente emocionalmente, você precisa ter consciência de sua personalidade. Você é um cara estourado? Sabe que alguma coisa lhe incomoda e que sua reação natural seria responder com uma grosseria? Então você se reprograma. Não deixa de sentir, o que é impossível, mas reage diferente. Você pode usar uma frase amortecedora, por exemplo: “Entendo que você pensa dessa forma, mas…” ou “Eu também me sentia assim, mas…”. Ou conta até 10.
2. Sim, contar até 10 funciona. E tem explicação científica.
Todo ditado popular tem um fundo de sabedoria. Neste caso, contar até 10 numa situação difícil funciona por duas razões. Primeiro, óbvio, porque leva tempo. Se inteligência emocional é saber aproveitar o espaço de tempo entre o que acontece comigo e a minha reação, para então decidir como reagir, esse tempo é valioso. Segundo, porque quem conta é o lado esquerdo do cérebro, que é o lado racional. Quando você conta até 10, você estimula o cérebro a reagir racionalmente, e não emocionalmente.
3. Até as profissões mais técnicas exigem que você saiba se relacionar.
Dale Carnegie dizia que 85% do sucesso profissional vêm de competências de relacionamentos e 15% de competências técnicas. A proporção pode variar, dependendo da atividade. A competência técnica de um cirurgião cardíaco certamente é muito importante. Mas mesmo esse cirurgião precisa se relacionar bem com o hospital, com o cliente, com o plano de saúde, com a secretária, com o anestesista. Ou então imagine um cientista, que trabalha em frente ao microscópio: como ele consegue um microscópio melhor? Amostras? Os recursos para uma viagem ao exterior? Ele precisa se relacionar e influenciar pessoas até para desenvolver sua técnica. Além disso, é bom lembrar que muitas pessoas são contratadas por habilidades técnicas, mas demitidas por comportamento.
4. Networking não é questão de quantidade, exige trabalho.
Você tem de manter seu network vivo e alimentado. Não adianta ter uma lista enorme de nomes para quem pedir ajuda só quando você precisar. Agindo dessa forma você termina excluído. É preciso administrar seus relacionamentos, conhecer as pessoas, saber do que elas gostam. Oferecer algo sem pedir nada em troca, surpreender seus amigos: “Olha, vi uma matéria que pode te interessar, copiei num DVD, você vai gostar…” Assim você vai semear no outro a vontade de estar perto de você. Isso é influência.
5. Influenciar com mentiras é manipular, mas há verdades que não precisam ser ditas.
Influência é quando conversamos sobre algo e eu tento ser transparente com você, acho sinceramente que nós dois temos a ganhar com a minha visão. E você se convence. Manipulação é usar uma mentira ou distorcer a verdade, de má-fé, para meu ganho próprio. É importante que eu seja sincero, mas isso não significa ser franco. Sinceridade é falar a verdade, franqueza é falar toda a verdade. Por exemplo: se você está bem gordo, mas é um cara bonito, eu estarei sendo sincero se disser que você é bonito. Se eu também disser que você é gordo, estarei sendo franco. Mas não preciso ser.
6. Não trate os outros como gostaria de ser tratado. Você pode fazer melhor.
Esse é um dos erros mais comuns em termos de relacionamento e inteligência emocional. Imagine que você é líder de vários funcionários, com diversos perfis psicológicos. Se você tratar a todos como gostaria de ser tratado, não vai tratá-los como eles gostariam de ser tratados. Tem gente que você precisa bater na mesa, falar forte, desafiar, e eles dirão: ‘Pode deixar comigo, vou te provar que consigo’. Já outros vão para o banheiro chorar, ou pedem demissão. Trate o outro como ele gostaria de ser tratado: para isso, você precisa se relacionar, se interessar por ele, conhecê-lo, ouvi-lo, diagnosticar o seu mundo.
Eduardo Ribeiro é professor da Integração Escola de Negócios, onde ministra o curso Inteligência Emocional e Influência. Para mais informações sobre o curso clique aqui.