Seja um líder estratégico

Na integra

Por Fabio Eltz, head das escolas de Liderança e de Comunicação da Integração

Como professor no Programa de Desenvolvimento de Liderança (PDL) e nos cursos in company realizados pela Integração, no Brasil e no exterior, ouço com frequência das lideranças sobre a dificuldade de desenvolver uma visão estratégica. Os líderes sentem orgulho por tudo o que estão fazendo, mas têm consciência de que estão muito focados no operacional, resolvendo problemas e emergências que surgem. Muitas vezes, eles se sentem culpados por não conseguirem pensar estrategicamente. 

Esse não é um dilema somente dos líderes. As empresas, de modo geral, querem que suas lideranças mirem o futuro e busquem soluções para desenvolver suas áreas. No entanto, para serem competitivas no mundo dinâmico em que vivemos, elas precisam focar em metas. Diretores e altos executivos de empresas com os quais converso sempre me dizem que gostariam que suas lideranças fossem mais estratégicas sem deixarem de lado os resultados. A lógica é essa: é preciso fazer as duas coisas. 

Ser estratégico exige tempo

No PDL, temos uma atividade em que peço aos líderes para colocarem no papel o quanto eles gastam de tempo para fazer as tarefas rotineiras, resolver emergências e pensar em estratégias. Esse momento do curso é dramático. Todos sabem que trabalham bastante para resolver problemas que surgem a toda hora, mas quando enxergam isso no papel, é um choque. Eles veem que não estão conseguindo dedicar quase nada, ou nada, do tempo para ter ideias que façam a área crescer. Aqui entra feedback para a equipe, ações para desenvolver os liderados, análise e busca de solução para um problema recorrente, planejamento, benchmarking. Ou seja, essa parte nobre do trabalho, que é pensar o futuro, acaba ficando prejudicada.

Sabemos que é complicado dividir o dia para ter tempo apenas para sentar e elaborar ideias. Sempre aconselho que a maneira de começar e tentar transformar o momento de pensar estratégias em hábito é pegar uma caneta e uma folha em branco e se isolar em uma sala ou no jardim da empresa, longe do e-mail, dos telefones e do WhatsApp. Se estamos conectados, os problemas nos acham e não conseguimos dedicar nem cinco minutos na prática de pensar estrategicamente. 

É preciso, portanto, ter vontade e disciplina para começar. Não será num único dia que alguém sairá com um planejamento pronto para sua área. Será necessário, como coloquei acima, tornar essa tarefa um hábito. Se consigo me concentrar bem por meia hora, vou repetir esse tempo na próxima semana e assim por diante.

Pode ser que a primeira vez em que o líder pare para pensar e veja a folha em branco na sua frente, não saiba o que fazer. Ele vai lembrar que deixou o celular na mesa, vai se preocupar com o e-mail e ainda vai achar que surgiu alguma emergência que só ele pode resolver. Mas é preciso ser determinado e focar no tempo delimitado para a tarefa de se tornar um líder estratégico. Em pouco tempo, já será possível enxergar mais claramente o futuro do setor, o que é preciso fazer, como funcionará melhor, quais os colaboradores merecem atenção quanto ao desenvolvimento etc. Depois de um tempo, esse momento será desejado. 

Abrir a mente para ser estratégico 

Além de disciplina, o líder deve buscar experiências diferentes para abrir a mente. Imagine como os fundadores da Uber ou do Airbnb conseguiram enxergar nichos de negócios tão inovadores quanto ao que já existia. Eles pensaram estrategicamente e, sem dúvida, tinham a mente aberta e arejada. 

O líder tem de expandir o olhar, conhecer experiências distintas da sua. Não digo apenas saber o que a concorrência tem feito, mas estudar cases de outros segmentos. Por exemplo, alguém que é da área de metalmecânica, deveria estudar cases da área de saúde ou de serviços. O que os outros setores estão fazendo, como estão crescendo? Por que determinada empresa cresceu e outra, que estava no ranking das maiores da Forbes, faliu?

Ter uma visão estratégica exige um exercício diário que não deve se restringir aos momentos dedicados a pensar sobre o futuro da área que lidera. É possível aproveitar o trajeto no táxi – ou na Uber – para uma leitura rápida, analisar um comercial enquanto assiste à TV, fazer networking com líderes de outros setores etc. Problemas que surgem de fatores conhecidos serão resolvidos com facilidade apenas utilizando o pensamento racional. Mas este é insuficiente quanto se trata de fatores desconhecidos que vão se acumulando de forma exponencial. Por isso, é preciso estar atento ao que acontece no mundo e abrir a mente para se ter uma visão estratégica.

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