Agilidade emocional: o que é e como usá-la profissionalmente

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Líderes eficazes não tentam suprimir sentimentos. Em vez disso, eles os abordam de maneira consciente e produtiva – desenvolvendo a chamada agilidade emocional.

Responda sinceramente: como você lida com emoções particularmente desafiantes ou com as situações que dão origem a essas emoções? 

Especialmente no ambiente profissional, pensamentos e sentimentos difíceis não costumam ter lugar no escritório. Afinal, queremos projetar segurança e nos mostrar inabaláveis, entusiasmados e alegres. A imagem deve ser sempre positiva.

Ao fazer isso, no entanto, estamos indo contra a biologia básica. Todos nós seres humanos temos uma corrente interna de pensamentos e sentimentos que incluem dúvidas, inseguranças, raiva e medo. Isso acontece porque nossa mente foi projetada para tentar antecipar e resolver problemas, evitando possíveis armadilhas.

O problema não é o turbilhão de pensamentos e emoções que invadem nossa mente todos os dias, mas a forma como lidamos e somos capturados por esses sentimentos indesejáveis.

“A agilidade emocional é a capacidade da pessoa de conviver consigo mesma de um modo corajoso, compassivo e instigante. Isso requer uma série de estratégias e de competências básicas. Uma delas consiste em ser capaz de não brigar com pensamentos e emoções”, explica Susan David, psicóloga considerada uma das principais autoridades sobre como nossos pensamentos e emoções podem nos fortalecer ou nos prejudicar.

Tentar ser feliz o tempo todo só gera desgaste emocional

Você já tentou colocar de lado um sentimento ruim e ele só cresceu? Pois esse é um efeito chamado na psicologia de amplificação. Você tenta minimizar ou ignorar pensamentos e emoções e elas só aumentam.

Essa tentativa, no entanto, é comum em nossa sociedade, que de certa forma impõe a necessidade da felicidade. Há pouco espaço para nos sentirmos frustrados ou tristes. Então insistimos em parecer felizes e isso acaba nos deixando ainda mais infelizes, principalmente quando evitamos lidar com nossos reais problemas.

Tentar ignorar situações complicadas não funciona. Compreender o que você está pensando e porque está pensando, permite explorar sua mente e aprender a fazer mudanças construtivas em sua vida. Isso porque a forma como uma pessoa lida com seu mundo interno — pensamentos, emoções, experiências e histórias — é o determinante principal de seu sucesso, seja pessoal ou profissional.

Como a agilidade emocional funciona

A agilidade emocional não diz respeito a controlar seus pensamentos ou obrigar-se a pensar de uma maneira mais positiva. Agilidade emocional tem a ver com escolher como você vai responder ao seu sistema de alarme emocional. Pessoas com agilidade emocional continuam a sentir raiva, tristeza e tudo mais, mas enfrentam esses sentimentos com curiosidade, autocompaixão e aceitação.

No trabalho é bem comum ficarmos incomodados com atitudes de colegas, chefe ou mesmo subordinados. O “ficar incomodado” é o sistema de alarme emocional fazendo seu trabalho. Quando isso acontece, cabe a nós reconhecer e aplicar nossas experiências pessoais (boas e ruins) de maneira consciente e produtiva para não simplesmente ignorar o problema.

Pessoas com agilidade emocional não estão imunes ao estresse e as dificuldades da vida. Elas só são mais resilientes e conseguem se adaptar, implementando pequenos ajustes que as conduzem não apenas ao sucesso, mas à felicidade.

“Existe um espaço entre estímulo e resposta. Nesse espaço reside o poder de escolher nossa resposta. Na nossa resposta residem nosso crescimento e nossa liberdade” – Viktor Frankl

Se adaptarmos a frase acima para o conceito de agilidade emocional, podemos dizer que as emoções são o estímulo, enquanto as reações são respostas. A agilidade emocional está exatamente no espaço entre um e outro. 

Quando você é ágil emocionalmente, tende a ser mais dinâmico, demonstrando flexibilidade para lidar com a complexidade do mundo e do ambiente de trabalho. Também tolera níveis mais elevados de estresse, sendo mais aberto e receptivo. Claro que você continua a sentir raiva, tristeza e tudo mais, mas enfrenta esses sentimentos com curiosidade e aceitação.

A agilidade emocional no trabalho

No ambiente profissional, a tendência é sermos emocionalmente mais rígidos. Em geral, o dia a dia é de mudanças, complexidade, novas tecnologias e disputas por poder. Isso nos deixa sob enormes quantidades de pressão psicológica e cognitiva. 

Para manter uma boa performance e o engajamento, claro que é importante investir no aprendizado e melhorar seus recursos cognitivos. Mas é igualmente necessário estar mais aberto para entender como está gerenciando as suas verdadeiras emoções nos momentos de tensão e não fingir que nada está acontecendo. 

A importância de saber reconhecer suas emoções

Em certas ocasiões, as emoções funcionam como um radar interno que nos ajuda a interpretar melhor uma situação. Por exemplo, quando sua intuição diz “esse colega está mentindo”. 

Em outros momentos, as emoções podem remeter a questões antigas e dolorosas do passado, confundindo nossa percepção do que está acontecendo de fato. É quando você acha que o colega está mentindo e lembra que já mentiram para você. Essa lembrança ajuda a solidificar algo que você não tem certeza, mas que logo assume como verdade: ele está mentindo.

Outro ponto é que fazemos avaliações de comportamentos exageradas. Atribuímos o comportamento da outra pessoa a características fixas de personalidade, julgando com rigidez. Em contrapartida, minimizamos nosso próprio modo de agir, explicando-o como uma reação natural às circunstâncias – ou seja, o nosso comportamento é justificável, o do outro não.

Todos nós “falsificamos” emoções

Quanto mais você falsifica suas emoções, maior é o trabalho emocional que exerce. A incongruência entre como você se sente e como finge se sentir se torna um fardo pesado.  

Aí que a agilidade emocional se torna mais um diferencial. Ela inspira um crescimento constante, permite um maior autoconhecimento e, mais, fomenta o amor-próprio. É a ausência de fingimento e atuação, nos tornando seres mais genuínos.

Nas palavras de Susan David: “a agilidade emocional trata da capacidade que temos de chegar aos nossos pensamentos e emoções e utilizar essas experiências como aprendizados, possibilitando enfrentar situações com mais propriedade sobre nossas escolhas. É reconhecer a sua vulnerabilidade e escolher uma forma mais inteligente de lidar com ela.”

Como se tornar uma pessoa mais ágil emocionalmente

  1. OLHE DE FRENTE

Em vez de ignorar pensamentos e emoções difíceis, ou enfatizar o pensamento positivo, deve-se encarar e explorar pensamentos, emoções e comportamentos com boa vontade, curiosidade e gentileza.

  1. AFASTE-SE

Desconectar-se de pensamentos e emoções e percebê-los pelo que são, ou seja, simplesmente pensamentos e emoções — e não fatos consumados.

  1. SEJA COERENTE

Concentrar-se em seus valores essenciais, que integram pensamentos, sentimentos e aspirações de longo prazo. Os valores essenciais são como uma bússola para seguirmos na direção certa.

  1. SIGA EM FRENTE

Viver com mais consciência e fazer pequenos ajustes mentais podem fazer uma enorme diferença, permitindo que ajustes de convicções, motivações e hábitos.

Em resumo, deve-se encarar seus sentimentos e pensamentos desafiadores, não ignorá-los. Para fazer isso de forma produtiva, afaste-se e perceba-os pelo que realmente são: só pensamentos. Feito isso, confie em seus valores como bússola para fazer boas escolhas. Enfim, trabalhe em pequenos ajustes de convicções, motivações e hábitos.

Ao trabalhar nessas melhorias, tenha coragem, mas foque no que é viável no momento. Lembre-se: quando respeitamos quem somos, conseguimos ter agilidade emocional para experimentar, falhar e nos perdoar.

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