O perfil do líder brasileiro: o que a ciência revela sobre quem chega ao topo

Na integra

perfil do líder brasileiro
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Será que os líderes têm mesmo um “perfil” diferente dos demais profissionais?

E se sim, quais características realmente fazem a diferença na liderança

Ainda, será que existem diferenças que se acentuam quanto mais alto o nível hierárquico?

 

Essas perguntas movem inúmeras teorias sobre liderança — mas quais delas se aplicam à realidade brasileira? E, mais importante: como medir esses comportamentos para desenvolver os líderes de amanhã ou selecionar as pessoas certas para cargos de gestão?

Para responder a essas questões, realizamos uma pesquisa inédita com 6.106 profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos, utilizando um dos modelos mais sólidos e reconhecidos pela ciência: o Big Five e o instrumento Big Five Brasil.

 

Como a pesquisa foi feita

O Big Five é o modelo de personalidade mais usado no mundo para mapear e compreender o comportamento humano. Ele é valorizado por sua estabilidade em diferentes culturas, idades e contextos, além de ter sólida validação científica.

Para esta pesquisa, usamos o Big Five Brasil — uma versão adaptada ao contexto ocupacional brasileiro e validada psicometricamente. Com ele, mapeamos 5 grandes traços de personalidade e 20 subtraços, cruzando esses dados com o nível hierárquico de cada profissional.

O objetivo foi identificar quais características diferenciam líderes de não líderes e como essas diferenças se intensificam (ou não) conforme o cargo sobe na hierarquia.

 

Por que usar o Big Five Brasil

Ao investigar se certos comportamentos são mais comuns entre líderes do que entre não líderes, é impossível ignorar uma questão central: até que ponto conseguimos medir comportamentos no trabalho de forma válida e viável?

Pense na medicina: exames como a tomografia computadorizada são excelentes para identificar doenças, mas expõem o paciente à radiação e, por isso, devem ser usados só em algumas situações. Na avaliação comportamental, o raciocínio é parecido. É preciso encontrar ferramentas eficazes, mas que respeitem o tempo das pessoas e evitem distorções nos resultados — como as respostas influenciadas pela chamada desejabilidade social (quando alguém responde para “parecer bem” e não para mostrar quem realmente é).

Foi justamente por atender a esses critérios que o Big Five Brasil foi escolhido como base desta pesquisa. Ele se destaca por três razões:

  • Validade científica com foco no trabalho: é um instrumento validado psicometricamente e pensado para o contexto ocupacional.
  • Aplicabilidade prática: usa uma linguagem acessível, adaptada à realidade das organizações brasileiras.
  • Redução de vieses: conta com escalas formuladas para minimizar respostas socialmente desejáveis, oferecendo resultados mais confiáveis.

Em outras palavras, é uma ferramenta que alia ciência e aplicabilidade, ajudando RHs e líderes a mapear comportamentos de forma ética, prática e precisa.

 

O que descobrimos sobre o perfil do líder brasileiro

Entre os 5 grandes traços analisados, 3 apresentaram diferenças relevantes entre líderes e não líderes: Abertura ao Novo, Amabilidade e Extroversão. Vamos aos destaques.

 

  1. Abertura ao Novo: a marca registrada dos líderes

O traço que mais se destacou foi a Abertura ao Novo. Ou seja, líderes, especialmente nos níveis mais altos, tendem a ser mais voltados para o futuro, abertos a mudanças, curiosos e confortáveis com ideias abstratas e ambiguidades.

Um ponto importante é que coordenadores e supervisores apresentaram padrões semelhantes aos não líderes nesse traço — o que sugere que o salto para cargos mais estratégicos exige um “upgrade” na capacidade de lidar com o novo.

Subtraços em evidência:

  • Imaginação: líderes de cargos mais altos exploram mais possibilidades e idealizam planos, enquanto coordenadores, supervisores e não líderes tendem a preferir uma visão prática e presente.
  • Abertura: líderes apreciam iniciar coisas novas, experimentar e buscar variedade no trabalho.

 

  1. Amabilidade: foco nos objetivos, não no agrado

O segundo traço mais marcante na liderança foi a Amabilidade — ou melhor, a baixa amabilidade. Essa leitura nos indica que líderes tendem a ser mais críticos, céticos, questionadores e competitivos. Isso não significa ser “desagradável”, mas sim ter foco em resultados, mesmo que isso envolva tomar decisões impopulares.

Subtraços em evidência:

  • Julgamento: maior senso crítico e avaliação com base em padrões próprios.
  • Confronto: disposição para expressar opiniões e debater ideias.
  • Competição: quanto maior o nível hierárquico, mais forte desejo de estar entre os melhores e superar desafios.

 

  1. Extroversão: energia e interação social

O terceiro traço em destaque foi a Extroversão. Aqui, vimos que líderes tendem a ser mais interativos, comunicativos, influentes e enérgicos — características que se acentuam nos cargos mais altos.

Subtraços em evidência:

  • Influência: Quanto maior o nível hierárquico, maior o interesse em articular soluções e direcionar pessoas.
  • Energia: ritmo acelerado, senso de urgência e disposição para agir.
  • Sociabilidade: prazer em trabalhar com outras pessoas e construir soluções coletivas.

 

O perfil do líder brasileiro: pouco perfeccionismo, muita ambição

Além dos três traços que mais diferenciam líderes e não líderes — Abertura ao Novo, Amabilidade e Extroversão — a pesquisa revelou outros padrões interessantes.

Um dos pontos mais claros é a ambição. Os dados nos mostraram que ela cresce junto com o nível hierárquico. Ou seja, quanto mais alto o cargo, maior a vontade de conquistar, superar metas e se destacar. A única exceção são os coordenadores e supervisores, que se aproximam mais do comportamento dos não líderes nesse quesito.

Outro dado relevante é que perfeccionismo e vulnerabilidade emocional costumam ser mais baixos entre líderes. Assim, falamos de indivíduos que não gastam energia perseguindo um padrão ideal impossível e, ao mesmo tempo, sabem manter a calma quando a pressão aumenta. Ou seja, são pessoas mais orientadas à produtividade e entrega, com maior resiliência diante de desafios e incertezas.

Em resumo, estamos falando de profissionais que sabem onde querem chegar, não se deixam travar por detalhes excessivos e têm fôlego emocional para conduzir a equipe mesmo nas fases mais turbulentas. Esse conjunto de características reforça que, além de competências técnicas e estratégicas, a forma como o líder lida com a pressão e organiza suas prioridades é determinante para o desempenho no cargo.

 

O que tudo isso significa para líderes e RHs

O estudo mostra que o líder brasileiro típico é mais aberto ao novo, focado em objetivos, menos amável no sentido de ser excessivamente complacente e mais extrovertido do que o não líder. Esses traços, combinados com outros como ambição e resiliência emocional, ajudam a explicar por que certos perfis chegam mais longe na posição de liderança.

Esta pesquisa mostra os comportamentos que irão ajudar ou dificultar o desempenho do profissional na posição de liderança. Assim, podem servir como uma bússola em processos de seleção, mapeamento de potencial ou desenvolvimento. Dessa forma, nossa recomendação é que os líderes ou profissionais que almejam cargos de liderança, invistam especialmente em desenvolver os comportamentos mapeados por esta pesquisa.

 

Probabilidade não é destino

Sim, os dados certamente nos mostram que certos perfis têm mais probabilidade de serem selecionados, promovidos ou mantidos em cargos de liderança. Mas… é preciso atenção, porque probabilidade não é sentença.

Ou seja, a estatística não define quem vai ou não dar certo — apenas indica o que é mais provável. Afinal, pessoas sempre podem desafiar o esperado, especialmente quando atuam com intenção, esforço e autoconhecimento.

Por isso, a recomendação é clara: use os dados como cenário, não como filtro único. Nesse sentido, uma ótima estratégia é combinar avaliação quantitativa (dados de personalidade) com análises qualitativas (trajetória, motivação, valores). Além disso, considere sempre a combinação de traços, e não apenas a presença ou ausência de um deles.

Ao fazer isso, é possível tomar decisões mais éticas, assertivas e sustentáveis — tanto na seleção quanto no desenvolvimento de lideranças.

Por fim, o dado mais importante é este: liderança é, ao mesmo tempo, perfil e prática. Ou seja, ter os traços ajuda — mas é o desenvolvimento contínuo, aliado a propósito e intenção, que transforma potencial em resultado.

Este estudo faz parte do curso “Certificação Big Five Brasil para Predição de Comportamento no Trabalho“, que aprofunda a aplicação prática do modelo na seleção, no mapeamento de potencial e no desenvolvimento de líderes, e que é conduzido por Fernando Cardoso, especialista em estudos de personalidade no trabalho. Para saber mais, clique aqui.

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