O que é liderança antifrágil e como desenvolvê-la

Na integra

Tudo muda cada vez mais rápido e vivemos em um permanente estado de insegurança e incerteza. Mal nos recuperamos de um “tombo”, e outro obstáculo surge na nossa frente. A sensação de “não dar conta” é constante, assim como sentimentos tais quais ansiedade, tensão, insatisfação, estresse.

É neste contexto que surge a ideia de antifragilidade.

Um bom lugar para começar a entender a antifragilidade é compreender que o estresse não é inerentemente negativo. Afinal, sistemas adaptativos complexos, como o dos humanos, precisam de estresse para aprender, crescer e se desenvolver. Sem isso, podemos nos tornar mais fracos e frágeis. Assim, quando conseguimos encarar o estresse dessa forma, podemos lidar com a incerteza e as dificuldades de modo mais positivo, inclusive nos beneficiando dessa experiência.

Ou seja, quando somos capazes de aprender, desenvolver e melhorar através de disrupções, desafios e mudanças, tornamo-nos antifrágeis. Dessa forma, uma liderança antifrágil é aquela que, na prática, experimenta mais vantagens do que desvantagens em ambientes incertos e voláteis.

Neste artigo explicamos o que é uma liderança antifrágil e apontamos caminhos rumo a esta nova forma de liderar.

 

Qual a diferença entre antifragilidade e resiliência?

Em seu livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos”, Nassim Taleb fez importantes distinções entre fragilidade, resiliência e antifragilidade. O autor define a antifragilidade como sendo o oposto da fragilidade e geralmente melhor que a resiliência.

É claro que sistemas, estratégias, economias ou indivíduos resilientes podem suportar muito mais stress do que se fossem frágeis. No entanto, se algo é antifrágil, torna-se ainda mais forte, prosperando mesmo sob stress, incerteza e imprevisibilidade.

Por isso, há quem defina a antifragilidade como Resiliência 2.0.

 

O que é uma liderança antifrágil?

Como estratégia, a liderança antifrágil visa preparar equipes e organizações para melhorarem quando expostas a eventos adversos – e não somente superar desafios. Dessa forma, como colocado acima, vai além da resiliência ou da recuperação após um “baque”. 

Em resumo, líderes frágeis quebram sob pressão e crises. Líderes resilientes se adaptam e se recuperam. Mas, os líderes antifrágeis tornam-se mais fortes e mais eficazes através da adversidade, da pressão e da incerteza. E ajudam sua organização e equipe a se tornarem igualmente melhor preparados.

 

Qual a importância de uma liderança antifrágil

Segundo dados da Gartner, a mentalidade dos líderes executivos está frequentemente ligada ao medo e ao evitamento de incertezas e mudanças inesperadas. Com isso, eles têm limitada sua capacidade de sentir e de evoluir de forma otimizada frente a incertezas.

No entanto, as empresas e os seus colaboradores precisam de um tipo diferente de liderança, para os motivar a ouvir sinais de que algo não está bem, experimentar e evoluir para prosperar em tempos de incerteza.

Por isso, desenvolver a antifragilidade é essencial para os líderes porque lhes permite adaptar-se às novas circunstâncias e superar as adversidades. Assim, no atual ambiente de negócios acelerado e imprevisível que vivemos são os líderes antifrágeis os mais bem equipados para lidar com desafios e capitalizar oportunidades.

 

Características da liderança antifrágil

Os líderes antifrágeis têm as seguintes características:

  • Modo de aprendizagem contínua: estão constantemente empenhados em aprender a partir do contexto em mudança, através de uma abordagem de aprendizagem contínua.
  • Abertura a novas ideias: reconhecem que a experiência pode ser uma limitação num contexto VUCA e estão abertos a ideias não experimentadas.
  • Planejamento: Esperam o melhor mas estão sempre preparados para o pior, rejeitando a ideia de que quem tem um plano ‘B’ não tem um bom plano ‘A’.
  • Capacidade de delegar decisões: possuem grande aptidão para delegar decisões a equipes em cenários de caos. Para tal, constroem relações de confiança com as pessoas e têm uma abordagem de absoluto respeito pelas competências dos outros.
  • Prontidão para feedback: preocupam-se e são capazes de dar e receber feedback constante para crescer e se desenvolver de acordo com as necessidades do ambiente. Um líder antifrágil está sempre pronto para se atualizar e se desafiar culturalmente.
  • Capacidade de lidar com a imprevisibilidade: utilizam eventos negativos para aumentar a qualidade do desempenho num processo de renascimento que vai além do conceito de resiliência.

Estas características permitem que os líderes antifrágeis prosperem em ambientes complexos e ajudam as suas organizações a permanecer resilientes e a crescer.

 

6 atitudes de líderes antifrágeis

Em seu livro “Becoming AntiFragile: Learning to Thrive through Disruption Challenge and Change“, a especialista Paige Williams lista seis princípios orientadores para ajudar líderes a se tornarem mais antifrágeis. 

 

  1. Não normalize o estresse: tensão e estresse não são sinais de que você ou outras pessoas estão quebrando. Dê às pessoas permissão para verem seu próprio medo ou ansiedade como sinais de que algo não está indo como seu cérebro deseja e precisa de atenção. Lembre-se e aos outros de que é seguro sentar e respirar apesar dessas sensações de desconforto. Então, quando você ou outras pessoas estiverem prontos, basta dar o próximo pequeno passo à frente a partir de uma posição de confiança e boas intenções. E se você precisar lutar novamente logo depois, saiba que esse processo pode ser repetido quantas vezes forem necessárias.

 

  1. Opere na realidade: não permita que seus pensamentos sejam inundados pela auto-sabotagem ou emoções negativas. Quando uma situação for desafiadora, encare-a perguntando a si mesmo ou à equipe: “O que sabemos com certeza? Qual é minha (nossa) parte nisso? Quais são boas ideias para resolver esse problema? O que posso (podemos) fazer para ajudar?”

 

  1. Quebre o negativo e construa o positivo: use os pontos fortes que você e os outros têm para desenvolver e sustentar a antifragilidade. No final de cada dia, pergunte: “O que deu certo hoje e quais pontos fortes tornaram isso possível? O que você espera amanhã e quais pontos fortes você pode aproveitar para tornar isso mais energizante e agradável?”

 

  1. Use os riscos de forma calculada e inteligente: traga opções adotando uma mentalidade de constante melhoria e crie segurança psicológica para que todos se sintam à vontade para defender a inovação. Considere algumas perguntas como parte de um ciclo de aprendizagem e torne-as um hábito Por exemplo: “O que correu bem? O que foi desafiador? Quais as lições aprendidas? Quais ajustes devem ser feitos?”

 

  1. Busque a sabedoria coletiva: convide diversas contribuições, incentive conflitos saudáveis e procure saber o que pode ser melhorado – tanto da sua equipe quanto dos seus diretores. Procure identificar onde realmente reside o comprometimento e a energia das pessoas para a ação, em vez de desperdiçar tempo, energia e esforço tentando fazer com que as pessoas simplesmente cumpram suas tarefas.

 

  1. Enfrente o jogo infinito: aproveite o significado e o propósito para dimensionar suas abordagens para benefícios de longo prazo, além desta crise. Esteja ciente de que este é um jogo infinito, que requer energia, por isso não deixe de comemorar marcos ao longo do caminho e faça da gratidão a atitude de sua equipe.

 

A antifragilidade e as emoções: para ter uma, lide com a outra

Não podemos falar sobre liderança antifrágil sem tratar da regulação emocional do líder, especialmente como resultado de contribuições externas. Até porque o ser humano vivencia um fenômeno chamado contágio emocional. Ou seja, somos altamente propensos a “assumir” as emoções daqueles que nos rodeiam. Por isso, até como exemplo, o líder deve ser capaz de regular e de lidar com suas próprias emoções (além da dos seus liderados). 

Esta é uma jornada de longo prazo, que envolve compreender e aceitar suas emoções, tornando-se mais forte através delas e das experiências vividas. Até porque não só o próprio profissional, mas também a organização deve mudar sua mentalidade em torno do que é o trabalho emocional de um líder.

Entendemos que nem sempre é fácil para um líder processar suas emoções (ou mesmo reconhecê-las), especialmente se atua num ambiente não receptivo a vulnerabilidades. No entanto, sugerimos algumas atitudes para ajudar neste processo:

 

  • Seja proativo em vez de reativo

Manter-se atualizado com as tendências e com as expectativas da organização e da equipe, contribui para um pensamento diferenciado e mais confiante frente às adversidades. O mesmo vale para estar constantemente desenvolvendo sua liderança antifrágil e habilidades intrínsecas a ela.  

 

  • Fique feliz em ajudar sua equipe

Em todo o espectro do comportamento humano, sabemos que obtemos mais energia e força de coisas que consideramos significativas. Portanto, a questão para nós é: como podemos encontrar sentido em apoiar os nossos colaboradores (por exemplo, ouvi-los quando estão em um dia ruim)? Algumas ideias:

  • Conecte-se ao seu propósito como líder e anote os principais resultados que você está tentando alcançar em relação ao seu pessoal. Mantenha esses resultados em mente.
  • Reflita sobre uma ocasião anterior em que você conseguiu resolver um problema, remover um obstáculo ou ajudar um colega. Como se sentiu? Lembre-se dessa experiência e busque repeti-la.

 

  • Abrace interações como oportunidades de aprendizagem

Em vez de chegar a cada momento com a sensação de que é um desafio a superar ou uma tarefa de liderança que deve vencer, tente mudar seu pensamento para perceber as interações como locais de constante aprendizagem e desenvolvimento. Isso está relacionado a ter uma mentalidade construtiva – um sentimento de que as dificuldades são oportunidades para crescer.

 

  • Não seja tão duro com você mesmo

A maneira como você responde a uma situação nem sempre será exatamente como planejado. Mas, se você reservar algum tempo para refletir sobre o que aconteceu – e não a partir do julgamento e autopunição – estará cultivando sua antiflagilidade, ou seja, permitindo que um “fracasso” se torne aprendizado e melhoria.

 

A liderança antifrágil deve moldar o líder do futuro

Por fim, tenha em mente as palavras de Taleb: “o primeiro passo para a antifragilidade consiste em primeiro diminuir a desvantagem”. Assim, procure entender o que pode ser eliminado da sua vida que não agrega ao seu bem-estar e aos seus objetivos. Como sociedade, tendemos a achar que precisamos de mais coisas, quando na verdade a resposta pode ser precisar de menos. Ou seja, para uma liderança antifrágil, avalie o que na sua vida profissional (e pessoal) é desnecessário, sendo apenas “desvantagem”.

Hoje apenas a resiliência não é suficiente. Afinal, já ultrapassamos a simples necessidade de nos adaptarmos e nos recuperarmos rapidamente de situações difíceis. O que precisamos agora é começar a nos tornar antifrágeis. Um passo nesse sentido é passar pela experiência do nosso PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE LÍDERES, o PDL, que ajuda profissionais a pensar e agir como líderes do futuro, mais confiantes, estratégicos, empáticos, inovadores e antifrágeis. Clique aqui para saber mais.

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