Aprendendo a ensinar

Fernando Cardoso, sócio-diretor da Integração, trabalha com e-learning desde o tempo em que a letra “e” do termo significava apenas “eletrônico”, não implicando em ensino online ou à distância. Em 1997, a internet engatinhava e Fernando já se dedicava a estudar e a desenvolver projetos de treinamento corporativo por CD-ROM. De lá para cá, viu muita coisa mudar – “e ainda está mudando” –, num campo que ele classifica como uma grande e permanente investigação. Ele sabe, no entanto, que algumas coisas nunca mudam: “Tecnologia é detalhe, conteúdo e metodologia são a base de tudo”.

Mestre em Semiótica e Inteligência Digital pela PUC-SP, já participou de mais de 100 projetos corporativos de e-learning, deu palestras no Brasil e no exterior sobre o tema e escreveu o livro Capacitação de Gestores de e-Learning, que ajuda profissionais de RH a planejar, implantar e monitorar treinamenos eficazes e de resultados comprovados. O título é o mesmo do curso que ministra pela Integração.

Confera a entrevista exclusiva com o especialista sobre o tema:

1.   Por que investir em e-learning?

Quando comecei a pesquisar a utilização de e-learning pelas empresas, percebi uma evolução que costumo chamar de “efeito cebola”.

A primeira camada da cebola – o primeiro motivo que faz as empresas investirem – é vencer barreiras geográficas. Uma empresa que está em todo o território nacional precisa treinar todo mundo, e o treinamento presencial teria uma logística complicada, demoraria, haveria uma série de limitadores. A segunda camada da cebola é a da economia financeira. Uma empresa precisa treinar centenas, milhares, dezenas de milhares… nessa escala, o e-learning viabiliza isso de forma mais econômica. Quanto maior o seu número de alunos, mais barato ele fica (já numa empresa com 100 colaboradores, esse investimento talvez não esteja na agenda). A terceira camada é poder treinar mais gente, ganhar produtividade na área de treinamento.

Passadas essas questões mais óbvias, porém, as empresas começam a ter expectativas mais complexas. É muito interessante o que está acontecendo hoje: os profissionais de treinamento estão percebendo que conseguem ampliar as possibilidades didáticas dos seus projetos e alcançar melhores resultados pedagógicos, em função do e-learning. Que seria a quarta camada da cebola.

2.   Quais as novas possibilidades didáticas que o e-learning oferece?

É o chamado blended learning, que é o e-learning complementando o treinamento presencial. Imagine que você está fazendo um curso de Liderança aqui na Integração. Uma opção é: acabou o curso, “tapinha nas costas e tchau!” A outra opção é: acabou o curso, você recebe uma série de ferramentas online para sustentar o seu aprendizado. É o que a gente chama de suporte ao desempenho. Outro exemplo: você pode assistir a um curso em que passa o dia inteiro ouvindo um professor falar. Ou, você pode fazer um curso online, e em sala de aula faz uma atividade de aplicação do conteúdo ao dia a dia do seu trabalho. Percebe os ganhos didáticos?

3.   É possível medir os resultados do investimento em e-learning?

Todo aprendizado é mensurável. O problema é que custa dinheiro e dá trabalho. Mas dá para mensurar tudo: se o aluno assimilou o conteúdo; se aplicou o conteúdo no trabalho; se houve mudança de comportamento; onde o comportamento melhorou e onde não. Até o ROI (retorno sobre investimento) é mensurável: você sabe que fez uma intervenção xis, que diminuiu a quantidade de erros, e sabe quanto custa um erro. Vamos supor que eu tenha um departamento de telemarketing que dá suporte a uma rede de agências bancárias. Eu elaboro o programa de capacitação e descubro que diminuí a demanda por essa central em 20%. Portanto, vou precisar de uma estrutura de suporte 20% menor. Isso é ROI. Isso tudo envolve uma série de questões estatísticas para que eu possa isolar o fator treinamento das outras intervenções, mas é possível. Muito pouco usado, porque custa dinherio e dá trabalho, mas é possível.

4.   Quando você começou a estudar o universo de e-learning, a internet mal havia nascido. De lá para cá, saberia apontar os principais marcos na evolução do e-learning, os turning points em termos tecnológicos?

É uma pergunta superdesafiadora. A primeira forma de responder isso é a seguinte: eu sempre achei que, um dia, [o conhecimento e as técnicas] do e-learning iriam se estabilizar, deixariam de ser novidades e se consolidariam. Mas até hoje o campo não se estabilizou, porque toda a cultura da internet ainda nao se estabilizou. A cada ano que passa você tem novas tecnologias, muda tudo muito rápido: as redes sociais, os hábitos das pessoas em relação às redes sociais, a forma como as pessoas se comunicam no “Mundo.Com”, iPad, iPhone… Não é só revolução tecnológica, é também na forma como as pessoas interagem e se relacionam. Inclusive no campo do e-learning. Tudo isso é muito intenso e desafiador. E ainda está mudando.

5.   A evolução dos recursos humanos acompanha toda essa mudança tecnológica? Temos pessoas capacitadas em e-learning hoje no País?

Vamos falar do RH, que é o nosso público. Você tem dois grandes movimentos. O primeiro é o surgimento de um profissional que se chama “designer instrucional”. É um cargo novo, já existem graduações, especializações e cursos pontuais de formação em design instrucional. Isso é um grande ganho para o e-learning, porque esse cara é um especialista em andragogia [ensino de adultos], independentemente do meio em que atua, à distância ou presencial. Você tem escolas formando essa mão-de-obra.

E o segundo movimento é que o profissional de RH também está começando a entender de e-learning, a perceber que não deve existir uma parede entre o treinamento presencial e à distância. Eu percebo isso no contato com nossos clientes, que a expectativa e a solicitação deles para seus projetos de capacitação de pessoal estão ficando mais complexas e ricas, com metodologias mais profundas, que utilizam uma combinação de recursos presenciais e à distância.

6.   E o que não muda? Quais as constantes que sempre valerão no e-learning?

O relacionamento humano não muda. A metodologia ser algo fundamental, mais importante que a tecnologia, não muda. A qualidade do conteúdo, que é sempre a base de tudo, não muda. A necessidade de uma estrutura didática não muda.

7.   O que o gestor de e-learning não pode esquecer jamais?

Que dá trabalho. Que alguém tem que tocar o projeto. Que é preciso manutenção. Verificar se os alunos estão acessando. Se estão aprendendo. Que é preciso estrutura e muito empenho. Horas de trabalho – eventualmente, um profissional dedicado.

8.   As empresas estão acertando ou errando mais no que se refere ao e-learning?

Acho que o mercado está investigando. Está construindo. Está evoluindo. Não diria que vejo mais erros ou acertos, vejo uma evolução. As melhores práticas têm mudado com muita frequência, numa velocidade que não desacelera. Vejo novas formas de aprendizado, vejo fornecedores oferecendo soluções maduras, vejo muita gente se especializando, ficando boa nesse assunto. Sem dúvida tudo isso está crescendo muito, mas ainda não está pronto. E talvez nunca fique.

Os desafios do planejamento de T&D

 

Investir em T&D traz ganhos valiosos para as empresas, diz Lucimar Delaroli

Profissionais preparados, motivados e alinhados com a empresa, dedicados à conquista de resultados e à construção de carreiras sólidas em parceria com as organizações. Esse tipo de capital humano, base fundamental para o sucesso de organizações que buscam consolidação e expansão no mercado, não é resultado da sorte. O treinamento e o desenvolvimento (T&D) de quadros de funcionários constituem as premissas para que esse cenário se edifique e se mantenha. Mas sabemos que para os profissionais de recursos humanos, há os desafios do planejamento de T&D. Esses profissionais necessitam, primeiramente, encontrar meios para realizar essa tarefa em diferentes postos hierárquicos. Em segundo lugar, eles precisam planejar, executar e avaliar a efetividade de suas ações. Interligam-se aqui pontos subjetivos e financeiros, pessoas e números, expectativas individuais e objetivos organizacionais.

De acordo com a consultora da Integração Lucimar Delaroli é justamente na articulação desses fatores que o planejamento em T&D encontra seus maiores percalços. A especialista explica que o investimento nessa área é geralmente visto, no mínimo, como pouco prioritário. A solicitação de recursos financeiros para seu encaminhamento gera, muitas vezes, uma série de questionamentos quanto aos resultados concretos para a empresa. Quando os recursos existem, a falta de um planejamento adequado pode gerar ações pouco integradas, com cursos e atividades que produzem resultados realmente pouco efetivos. Mesmo nos casos em que o planejamento existe e está minimamente alinhado às necessidades da organização, o mapeamento e avaliação aparecem como desafios enormes. Afinal, de que forma se pode valorar como determinado aprendizado adquirido pelos colaboradores trouxe melhorias em seu desempenho? E mais: de que modo verifica-se a relação entre esta mudança e os balanços financeiros da empresa?

Clareza de objetivos para driblar os desafios do planejamento de T&D

Esse emaranhado de dificuldades exige dos responsáveis pelo planejamento em T&D um olhar apurado tanto no que se refere ao correto diagnóstico das necessidades quanto ao processo para saná-las. Ainda é preciso buscar formas de adesão dos colaboradores e perceber que dinâmicas melhor se adequam a cada caso. Essa análise e essa clareza de objetivos não apenas definirão o processo e o investimento de recursos como também possibilitarão que métodos eficazes avaliem o sucesso ou fracasso da ação.

“Há grandes diferenças nas culturas organizacionais e, em um país como o Brasil, essas distinções chegam a ser brutais. Da mesma forma que já contamos com empresas amadurecidas e com parâmetros claros em T&D, temos uma maioria de estruturas quase arcaicas. Esse é o contexto, principalmente das pequenas empresas. Ou seja, elas enfrentam dificuldades para manter em dia suas folhas de pagamento, geralmente, encontrando pouquíssimo espaço para desenvolver seus profissionais”, explica a consultora.

Nos casos em que o planejamento em T&D é uma realidade, seu amadurecimento envolve diferentes áreas corporativas e a adoção de uma cultura que favoreça o fluxo de informações. Essa cultura é fundamental para que o RH aprofunde o seu trabalho.

Após vencer os desafios do planejamento de T&D, resultados concretos

Todo esse esforço, quando desenvolvido de maneira adequada em organizações preparadas para dar-lhe suporte, resulta em ganhos valiosos. E estes podem, sim, ser medidos a partir de dados concretos: diminuição de turn over, melhoria do clima organizacional, aumento nos resultados de desempenho, diferenciações a partir de análise de séries históricas e outros. Esses dados, baseados em informação de distintas áreas, atendem a objetivos traçados no momento do diagnóstico que iniciou o processo, fechando um ciclo. De um ponto de vista que pode ser percebido como mais subjetivo, chega-se a um grupo de colaboradores mais satisfeitos e preparados para suas funções e com clareza do aprimoramento necessário às suas atividades.

Ainda que estejamos longe do cenário em que T&D figurem como pauta central da maioria das empresas, Lucimar aponta que esse será um caminho necessário para o amadurecimento das estruturas corporativas no país. “Essa trilha indicará que evoluímos em nosso conceito de riqueza e valor, e passamos a compreender que, além do lucro, há retornos em nível humano. Isso é muitíssimo importante para organizações prósperas e sustentáveis”, completa.

Resumindo, podemos afirmar que vale a pena o RH passar pelos desafios do planejamento de T&D e fazer seus investimentos. Uma dica para saber

Uma dica para saber como distribuir o investimento em T&D: baixe o seu
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Veja também nosso curso Como estruturar um planejamento anual de T&D.