Entenda a origem das tecnologias exponenciais

O futuro chega a galope. Imagine que um legionário romano está guardando as cercanias de Lutécia no reinado de Trajano e entre em um sono mágico, só despertando mais de 700 anos depois, durante o cerco dos Vikings. Ele iria estranhar que, naquele momento, a cidade se chamava Paris, tinha prédios tão grandes quanto em Roma e os inimigos falavam um idioma muito diferente. Fora isso, as armas usadas, táticas de batalha e mesmo os navios, não seriam muito distintos daqueles com os quais ele estava acostumado.

Agora pense em você adormecendo o mesmo sono mágico em 1997 e despertando neste exato momento. Ao saber de carros autônomos, carne feita em laboratório e drones fazendo entregas, você acharia que se passaram 20 ou 200 anos?

Bem-vindo à era das tecnologias exponenciais em que estamos testemunhando mudanças tão radicais, intensas e frequentes como nossos antepassados viram durante a Revolução Científica. E apesar dessas transformações parecerem inesperadas em um primeiro momento, elas começaram há alguns anos e estão seguindo um curso natural de crescimento exponencial.

Em 2011, um artigo escrito por Marc Andreessen para o Wall Street Journal descreveu a base do que estamos vendo hoje. Ele afirmou que em breve todos os negócios seriam transformados em empresas de software porque tínhamos à disposição tudo o que era necessário para transformar as indústrias, por meio do software, em uma escala global com custos cada vez menores. E o breve chegou mais rápido do que se esperava.

Os 6 Ds da disrupção tecnológica

A base citada por Marc Andreessen criou um sistema em que as tecnologias podem prosperar com velocidade crescente e de forma contínua, com o conhecimento adquirido sendo reaproveitado, melhorias acontecendo em ciclos cada vez mais curtos e impactos maiores em toda interação. Esse processo segue uma sequência comum que foi nomeada de “os seis Ds da disrupção tecnológica” por Peter Diamandis e Steven Kotler no livro “Bold: How to Go Big, Create Wealth and Impact the World”. A frase usada pelos autores ilustra bem a importância desta sequência: “uma reação em cadeia da progressão tecnológica que resulta em um road map para o desenvolvimento rápido, sempre gerando enormes viradas e oportunidades.”

O primeiro passo é quando uma tecnologia é digitalizada e, a partir daí, ela fica mais fácil de acessar, armazenar e distribuir. Tudo o que se tornou digital ganhou escala: músicas, filmes e até mesmo o DNA. Em seguida, a decepção no período em que a tecnologia ainda é tímida e os avanços não fazem muita diferença na percepção comum, porém a característica exponencial faz com que isso mude rapidamente.

A primeira câmera digital, criada em 1975, tinha a resolução de 0.01MP e, em 1995, uma DSLR simples chegava a 40MP, um aumento anual de 4.000 vezes! É esse o momento em que a tecnologia se torna disruptiva e começa a realmente fazer a diferença. Empresas como Amazon e Airbnb são exemplos das que passaram recentemente por essa fase, transformando mercados que tinham bases sólidas e até mesmo inventando novos nichos.

E quando a disrupção supera sua barreira de penetração no mercado, ela avança para o quarto passo, tornando-se desmonetizada. O smartphone que boa parte da população usa conta com tecnologias que juntas valiam mais do que o seu carro. Câmeras digitais de vídeo e foto, GPS, bússola e VCR players, que antes dependiam de hardwares específicos, estão hoje à sua disposição como software por um custo marginal. E esse movimento anda de mãos dadas com a desmaterialização que afetou esses produtos e está avançando em outros mercados. O Hilab, por exemplo, foi desenvolvido em Curitiba em parceria com a Intel e a Microsoft e tem capacidade para realizar até 100 tipos diferentes de exames a partir da coleta de sangue. Ao final as tecnologias são democratizadas e ficam disponíveis para cada vez mais gente e isso fomenta a abundância pregada por Peter Diamandis.

Como aproveitar tudo isso?

As tecnologias exponenciais são o fundamento da inovação que estamos testemunhando, porém, de forma isolada elas não resolvem nada. É preciso combinar a adoção de tecnologias com a mudança organizacional. Note que uma parte significativa dos atributos de captura e gestão de abundância usados pelas empresas que mudam o mundo estão centrados em comportamentos organizacionais. Autonomia das pessoas, integração verdadeira entre as equipes e capacidade de experimentação sem medo de errar são o começo da mudança que irá transformar a sua empresa para um futuro que já chegou tem tempo.

Eduardo Vianna de Camargo Neves

Trabalhando no mercado de tecnologia desde 1997, Eduardo Neves passou por empresas como Philip Morris Latin America e Hewlett Packard Enterprise, onde trabalhou com gestão de riscos, desenvolvimento comercial de novas tecnologias, inovação e marketing de produtos. Fundou a Bygge para entregar ao mercado um framework para inovação em marketing de produtos, onde tecnologias exponenciais fundamentam soluções para a construção da proposta de valor

É co-fundador da consultoria em transformação de negócios Get Exponential e reconhecido por Salim Ismail, um dos fundadores da Singularity University e Chairman da EXO Works como EXO Sprint Coach.

É co-fundador da consultoria em transformação de negócios Get Exponential e reconhecido por Salim Ismail, um dos fundadores da Singularity University e Chairman da EXO Works como EXO Sprint Coach.

É co-fundador da consultoria em transformação de negócios Get Exponential e reconhecido por Salim Ismail, um dos fundadores da Singularity University e Chairman da EXO Works como EXO Sprint Coach.

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Aumente o potencial inovador da sua empresa

A especialista em inovação e estratégia Solange Mata Machado não pode lhe oferecer garantias, mas ela garante que existem formas de aumentar o potencial inovador da sua empresa. De acordo com ela, dá para fazer com que sua empresa esteja preparada e aberta para a ideia – quando ela surgir – capaz de trazer a mudança. Mas grande parte das empresas brasileiras, diz a especialista, está fazendo errado.

“Há uma diferença entre criatividade e inovação”, diz Solange. “Qualquer ser humano é capaz de criar coisas novas, isso é criatividade ou potencial criativo. Agora, usar essa capacidade para criar uma coisa que traga valor e resultados específicos, isso é inovação!” Para ela, inovação é um termo que significa, ao mesmo tempo, resultado e processo. Em outras palavras, não é apenas o tablet de última geração, mas o que a empresa fez para chegar nele.

De acordo com Solange, o problema de muitas empresas – as grandes, principalmente – é que elas estão focadas no resultado, querem apresentar um produto ou serviço inovador, mas mantêm os mesmos processos internos engessados, olham pouco para fora e têm medo de arriscar. Como solução, ela propõe uma mudança de cultura na empresa de cima a baixo, a começar pelas lideranças. E considera o RH ator-chave nesse processo, como fica claro pelo curso que ela oferece pela Integração Escola de Negócios, O RH como Facilitador para Inovação.

“Não dá para garantir inovação, mas nós conhecemos os drivers, os pontos centrais de um processo de inovação, que precisam estar totalmente imersos na cultura da empresa”, diz a especialista. “O papel do RH é justamente fomentar e consolidar essa cultura.” A seguir, Solange aborda alguns desses pontos que podem conduzir a sua empresa ao caminho da verdadeira inovação.

Antes de inovar, inove a si mesmo

5 princípios pelos quais se guiar para ter uma empresa inovadora.

1.   Tenha um propósito

“A capacidade criativa de sua equipe tem de ser focada em objetivos muito claros, alinhados com os pilares estratégicos. Cada vez menos se praticam processos excessivamente abertos, como o antigo brainstorm, porque eles geram frustração. Se você estimular as pessoas a ter ideias sem um foco, pouquíssimas ideias serão aproveitadas, porque falta aderência à estratégia da empresa. Uma reunião para gerar ideias pode servir apenas como um elemento do processo, e mesmo assim precisa ter um foco: gerar ideias para quê?”

Solange diz que metodologias mais modernas, como o chamado design thinking, são mais eficazes, por sempre partirem do consumidor final (o foco). Um exemplo simplificado seria: em vez de começar o processo por “o que seria um barbeador inovador?”, começar por “do que o usuário de barbeadores precisa?”

2.   Crie o ambiente propício

“[É preciso] pôr as peças do quebra-cabeças juntas, preparar o contexto que estimule a habilidade criativa inerente das pessoas. O RH é um dos principais interlocutores para fomentar a cultura da inovação. Seja através de treinamentos em processos estruturados e disciplinados de solução criativa; seja promovendo, junto com as lideranças, o ambiente propício para a inovação.”

Segundo Solange, este ambiente propício implicaria em:

  • Lideranças inovadoras, que inspirem e motivem.
  • Flexibilidade no fluxo de ideias: menos hierarquia e burocracia.
  • Comunicação que estimule colaboração e diversidade de olhares.
  • Abertura à experimentação e ao risco, maior aceitação dos erros.

3.   Agora saia desse ambiente

“[É preciso] estar ligado a centros de inovação, como universidades e centros de pesquisa, criar parcerias com consumidores e fornecedores, ficar de olho nas novas tecnologias. Veja uma empresa como a P&G, por exemplo: mais de 50% das inovações colocadas no mercado vieram de fora da empresa. Ou a Apple, que cria muito pouca coisa ‘dentro de casa’: ela é uma grande integradora de tecnologias, e tem capacidade de design fantástica.”

Nessa visão, a principal função do departamento de pesquisa e desenvolvimento não é mais conceber, mas sim captar ideias de fora – e adequá-las aos objetivos estratégicos da empresa. A inovação vem da gestão do conhecimento, de um melhor portifólio de fontes de inovação.

4.   Saia do seu próprio mercado

“Nos últimos 30 anos, as empresas ficaram focadas em inovações incrementais: aumentar a produtividade, melhorar o que já fazem, atender melhor o cliente que já têm, expandir no mercado do qual já fazem parte. Só que quanto mais você tiver olhos para crescer no seu negócio, maior o seu risco. Porque a tecnologia pode mudar tudo rapidamente, romper um mercado drasticamente.”

Para Solange, o sucesso é um perigo, e o que mata a inovação é a visão de curto prazo. Mesmo empresas tidas como inovadoras, quando vistas de perto revelam-se temerárias, investindo no que já está consolidado. “Quando você coloca em pauta no board de uma grande empresa investir em novos mercados, a reação é quase invariavelmente não”, diz ela, que vê necessidade urgente de especialistas em inovação estratégica integrarem os conselhos administrativos.

5.   E aposte nos pequenos

“As empresas menores têm sido a origem das grandes mudanças tecnológicas. Porque a cultura de uma pequena empresa já é totalmente flexível; já está centrada em pessoas, não em posições hierárquicas; ainda não está engessada em processos rotineiros; já está mais aberta a parcerias; já está mais disposta a correr riscos. Tudo para a pequena empresa é novo. Tudo é exploração.”